domingo, 22 de março de 2009

NÃO É DIFRENTE, É ORIGINAL!

E não é que, depois de tantas conversas, eu sonhei mesmo?? E foi assim, o moço tinha acabado de entrar num Reality Show, mas não foi muito bem recebido. Ele era ruivo, e ninguém sabia o por que, mas não gostaram dele. Os participantes haviam comentado que não achavam graça em pessoas ruivas. Falava-se a todo o momento que o novo participante foi hostilizado por causa dos cabelos vermelhos e da pele extremamente branca. “Mas o que isto tem a ver?” Só sei que foi assim o sonho e acordei pensando. Alguma informação ficou processada em mim, além das bobeiras que se vê na TV (no meu caso, se escuta) para eu ter sonhado isso. Tinha um ruivo na minha escola, e não que eu fosse um modelo de beleza, mas realmente o achava muito esquisito. Mas será que tudo que é atípico, diferente, gera resistência? Engraçado isso, mas temos uma tendência enorme a amar ou odiar quem é bem diferente de nós, tanto em comportamento, quanto em aparência. São sempre extremos. Mestiços odeiam ou idolatram loiros, e vice versa. Com os ruivos isso também ocorre. Ouvi dizer uma vez que eles, os ruivos, são muito sem graça. Como se a aparência pudesse determinar o interior das pessoas. Já diz o provérbio, “quem vê cara não vê coração.” Mas como explicar o número enorme de pessoas que tingem o cabelo de vermelho por acharem uma cor forte, cheia de personalidade?
É uma questão a se pensar. Lembro de um programa onde se falava da vida escolar de um ruivo famoso que é extremamente inteligente, astro da música nacional. Poucos o conseguem achar bonito, mas muitos admiram seu estilo. Lembro-me que um professor disse que via uma bela imagem, de lá de cima, da sala dos professores, quando visualizava o tal músico lá em baixo, no pátio. Dizia que era muito bonito ver o reflexo dos cabelos vermelhos sob o sol da manhã, e que apesar de ele ser um adolescente introvertido, aquilo já mostrava a força que ele teria quando ficasse adulto. E teve mesmo. Talvez não fosse regra, mas uma das coisas mais interessantes que o professor guardou do músico foi esta imagem, vista só por uma das partes.
Já Clarice Lispector, em seu conto “Tentação”, fez o inverso do professor do músico. Ela conta a estória de uma menina ruiva, com soluço, que se sente diferente do mundo, das pessoas. Realmente, em nosso país, os ruivos somam uma pequena parcela da população. São raros, e talvez por isso precisem se auto-afirmar. “ Que fazer de uma menina ruiva e com soluço?” A “menina vermelha” do texto de Clarice se sente sozinha, e se encanta com um cão. Esse amor a 1ª vista acontece porque o cão também era ruivo, assim como ela. Os dois se conhecem, se apaixonam, desejam um ao outro. A menina se vê no cão, como se ele fosse o companheiro perfeito para a sua diferente condição de ter o cabelo vermelho e ninguém para dividir suas angústias. O cão estava ali, e era a cara dela. Hipnotizados um pelo outro, ela acredita ter achado a solução para seus problemas. Mas o cão já tinha dono, e não podia pertencer a ela. O soluço não cessou, e nem a busca pela identidade da criança. Mas ela não era uma criança qualquer, era ruiva. Também outras crianças de outras etnias passam por isso, mas a ruiva se sentia a mais diferente de todas. Mais atípica.
Bom, mas para encerrar esta pequena polêmica que meus sonhos afloraram, vou deixar uma opinião bem particular. Cá entre nós, realmente o professor do tal músico tinha razão, pois deve ser uma bela imagem o reflexo dos cabelos de um garoto ou garota ruivos sob o sol da manhã. Quantos versos um poeta não pintaria dessa imagem, não é mesmo? 


Vanessa Zordan