domingo, 1 de dezembro de 2013

Aniversário




Fazer anos pode ser catártico. Eu sempre associei o meu aniversário ao começo do fim. Faço anos no final de novembro, logo em seguida já começa dezembro e com ele a sensação de que o ano está acabando. Sensação não, realidade. Aí bate um desespero, parece que mais um ano se passou e nada mudou. Alguns sonhos engavetados, alguns dos projetos da listinha do ano passado apenas iniciados (quando muito). Mais um aniversário, mais uma vida que escorreu pelo ralo. E parece que tudo está igual, somente um ano mais velho.
A catarse da vida se instala para mim, com mais força, nessas datas. São inúmeras manifestações de gente que gosta de mim (e que eu gosto igualmente) que aquecem o coração. A gente pensa mesmo que a vida é de fato boa, que é feliz porque tanta gente gosta sinceramente de nós, e isso, claro, não pode ser descartado. Mas ainda assim, a cada ano acumula-se um vazio, e eu não sei explicar, tão pouco apontar miudamente. Só sei que ele existe, e esse apelo natalino do meu aniversário, no último dia do novembro indomado, dá a ele um peso ainda maior. É uma gangorra que puxa para baixo, e ao mesmo tempo para cima, e para baixo, e para cima. Para cada alto, há um baixo. Sem juízo de valor ou grau de importância, mas há sempre os dois, se alternando. E não se refere a meu humor nem estabilidade emocional, mas sim aos acontecimentos cotidianos. Aprendo tanto, e à medida que isso acontece, a sensação de saber nada aumenta. É gradativo, contraditório e quase filosófico. E as palavras gritam aqui dentro, querendo sair, ter asas para voar, mas o despreparo da representante delas ainda as tolhe de partirem rumo ao desconhecido. Então elas buscam espaço nas letras dos outros, e encontram nessas letras quem escreva por mim. Momentos mágicos. Acalmam-me, por hora, refrescam o coração, mas logo a busca incessante recomeça. E essa busca será eterna enquanto eu viver! Porém a maturidade me fez perceber que só há vida mesmo, de verdade, enquanto houver buscas. Elas são presentes, e não penas. Alimentos, e não faltas. 
Que eu não me acovarde diante das buscas da vida. Que eu tenha sempre algo novo para buscar, e que o desconhecido jamais me coloque medo, e sim fascínio. Que esse fascínio me impulsione a querer mais e sempre mais, tanto quanto minha alma necessitar, e que me sobre um bom tempo para dividir com quem precisar. Que as datas todas passem a marcar começos, e não fins! Para todo o fim há um começo, então que fique a parte boa dos dois. Que os fins me carreguem sempre para novos começos. E que a vida seja sempre doce, mesmo quando o amargor saltar aos olhos...pois no fundo o que importa mesmo é viver. Somos pássaros a semear novas flores...dentro de nós, e dentro dos outros. E o tamanho do nosso jardim só depende de nós mesmos.