Fazer anos pode ser catártico. Eu
sempre associei o meu aniversário ao começo do fim. Faço anos no final de
novembro, logo em seguida já começa dezembro e com ele a sensação de que o ano
está acabando. Sensação não, realidade. Aí bate um desespero, parece que mais
um ano se passou e nada mudou. Alguns sonhos engavetados, alguns dos projetos
da listinha do ano passado apenas iniciados (quando muito). Mais um
aniversário, mais uma vida que escorreu pelo ralo. E parece que tudo está
igual, somente um ano mais velho.
A catarse da vida se instala para
mim, com mais força, nessas datas. São inúmeras manifestações de gente que
gosta de mim (e que eu gosto igualmente) que aquecem o coração. A gente pensa
mesmo que a vida é de fato boa, que é feliz porque tanta gente gosta
sinceramente de nós, e isso, claro, não pode ser descartado. Mas ainda assim, a
cada ano acumula-se um vazio, e eu não sei explicar, tão pouco apontar
miudamente. Só sei que ele existe, e esse apelo natalino do meu aniversário, no
último dia do novembro indomado, dá a ele um peso ainda maior. É uma gangorra
que puxa para baixo, e ao mesmo tempo para cima, e para baixo, e para cima.
Para cada alto, há um baixo. Sem juízo de valor ou grau de importância, mas há
sempre os dois, se alternando. E não se refere a meu humor nem estabilidade
emocional, mas sim aos acontecimentos cotidianos. Aprendo tanto, e à medida que
isso acontece, a sensação de saber nada aumenta. É gradativo, contraditório e
quase filosófico. E as palavras gritam aqui dentro, querendo sair, ter asas
para voar, mas o despreparo da representante delas ainda as tolhe de partirem
rumo ao desconhecido. Então elas buscam espaço nas letras dos outros, e encontram
nessas letras quem escreva por mim. Momentos mágicos. Acalmam-me, por hora,
refrescam o coração, mas logo a busca incessante recomeça. E essa busca será
eterna enquanto eu viver! Porém a maturidade me fez perceber que só há vida
mesmo, de verdade, enquanto houver buscas. Elas são presentes, e não penas. Alimentos,
e não faltas.
Que eu não me acovarde diante das
buscas da vida. Que eu tenha sempre algo novo para buscar, e que o desconhecido
jamais me coloque medo, e sim fascínio. Que esse fascínio me impulsione a
querer mais e sempre mais, tanto quanto minha alma necessitar, e que me sobre
um bom tempo para dividir com quem precisar. Que as datas todas passem a marcar
começos, e não fins! Para todo o fim há um começo, então que fique a parte boa
dos dois. Que os fins me carreguem sempre para novos começos. E que a vida seja
sempre doce, mesmo quando o amargor saltar aos olhos...pois no fundo o que
importa mesmo é viver. Somos pássaros a semear novas flores...dentro de nós, e
dentro dos outros. E o tamanho do nosso jardim só depende de nós mesmos.