Na verdade, eu queria fazer
beijinho de colher para você todos os dias. Não, todos os dias não, todas as
semanas, senão viraríamos dois bujões. Ou melhor, eu queria fazer beijinho de
colher para você toda vez que desse muita vontade, que é para não ficar
enjoativo. Compartilharíamos do mesmo recipiente, cada um com sua colher, e
quando menos esperássemos compartilharíamos também a colher, embaixo dos
cobertores de uma noite fria, assistindo a um filme qualquer.
Na verdade, eu queria que minha
vida ao seu lado não fosse enjoativa. Que tivesse o frescor de um beijinho de
colher feito de vez em quando, e surpresas diárias, mesmo que as novidades
fossem poucas. Qualquer história sua seria uma novidade, e me faria ter a
certeza de que acertei em cheio no dia em que te vi e pensei mesmo que passaria
a vida toda com você, nos seus olhos, no seu abraço, que me envolveria sempre
que eu achasse que a vida era pesada demais. Eu também te abraçaria, e te faria
esquecer seus medos, suas angústias e incertezas.
Na verdade, eu queria entrar na
sua vida como vento súbito, arrebatador e inesquecível. E permanecer nela como
brisa leve. E te ensinar que viver vale à pena, e aprender com você um quer que
seja de novo do seu dia-a-dia, da sua profissão, e ficar boquiaberta pensando
que nunca imaginaria que era assim, não fosse você para me esclarecer
miudamente essa questão, esse ponto de vista, essa vida toda sem saber o que era
o amor, o que era sentir uma vontade enlouquecedora de estar perto, de conversar,
de saber mais.
Na verdade, eu queria sentir essa
febre, esse quebranto, o encanto do novo, que despertaria meus sentidos e me arderia
por dentro. Algo quase adolescente, e ao mesmo tempo tão adulto, e ao mesmo
tempo tão certo, e sério, e vivo, e necessário, que não dá para acreditar que
nossas vidas ainda correm separadas uma da outra.
Na verdade, vivo de esperas...