terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O QUE EU QUERO

Quero a minha vida

Cheia de poesia.

O sentido real é muito chato.

Abaixo à sem-gracisse,

E viva a subversão!!!

Vanessa Zordan 

OBJETO DIRETO



Você é meu complemento:
Verbal na ação e nominal no desejo.
O objeto direto das minhas variações
em voz passiva.

Vanessa Zordan 

DO MESMO JEITO

Por que ser é
menor que existir.
se só existimos sendo,
e se não somos, não existimos?
Os dois tinham que ter o mesmo tamanho!

Vanessa Zordan 

E O QUE É PEQUENO...

O mundo está cheio
de pessoas pequenas
que fazem coisas pequenas
e que se incomodam com coisas pequenas.
Mas apesar de toda essa pequenez
são capazes de grandes estragos.

Vanessa Zordan 

ESTA É PRÁ VOCÊ

Tudo começou assim, mais uma novidade entre as outras que eu vivia. A profissão finalmente estava sendo posta em prática, depois das comemorações da formatura. Novidades, medos e uma grande insegurança. Gagueira, vergonha, falta de ar. Incômodos constantes de “não sei quem sou” tomavam conta de mim. Um novo mundo batia à minha porta, e tinha o nome e a cara de uma escola. Na sala dos professores lotada, mais incômodos. Fora do ninho e da órbita, me sentia qualquer coisa, menos professora.
Nesta confusão de sentimentos, certo dia eu notei a meu lado, depois de longos minutos, como era de minha natureza (“Fantástico mundo de Boby”), uma moça. A conversa iniciou-se, pouca, seca. Depois de um tempo, descobrimos uma coisa em comum. Morávamos perto. E o combinado foi uma carona no primeiro horário do dia seguinte, dada por mim a ela, uma vez que meu pai me levaria para a escola. A troca de telefones selou o combinado, que não ficou bem certo: “isso se meu sogro não for me levar”. Era casada, o que a princípio impossibilitava uma possível amizade, ou o que eu conhecia por amizade.
À noite, a espera do telefonema. “Será que ela vai ligar?”. E logo depois do jornal, o toque. Era ela, íntima, sem cerimônia: “Você me pega em casa, então? Amanhã antes das 7:00 ?”. “Ok”, respondi. Menina espevitada, tão solene na sala dos professores, e tão outra ao telefone. Engraçado, mas gostei dela. Precisava de alguém para conversar em território que eu ainda não conhecia direito. E para a minha surpresa, em pouco tempo estava freqüentando a casa dela, conhecendo sua história. A afinidade foi crescendo em algo que transcendia a profissão, as diferenças, o vocabulário e a maneira de se portar. Não se tratava somente dos mesmos gostos, tratava-se também de troca de carinho e de experiências, mais as delas do que as minhas. Típico da grandeza de quem sabe ensinar, como ela sabe. E aos poucos ela foi me resgatando do abismo e me mostrando o caminho das pedras, com tudo que eu ia encontrar, dos espinhos às flores, devidamente explicados e prontos para mim. Prevendo coisas, adivinhando sentimentos, trazendo apoio e consolo. Em alguns momentos, ela foi deixando as coisas por minha conta, dizendo que acreditava em mim e me incentivando a caminhar sozinha. Me deixou grandes heranças, como falar palavrão e não levar desaforo para casa. Me fez sentir uma vontade imensa de ter letra bonita e raiva de mim mesma por ter feito Letras e não História. Depois somamos as minhas Letras com a História (e estórias) dela, e o resultado foi um misto de sentimentos que partiram de descobertas em conjunto a comprar coisas iguais à 250km uma da outra. Intenso, não?Menina do cabelo dourado, que com sua generosidade me ensinou a ser generosa também, e com quem aprendi a ser o que sou hoje. Pessoa a quem devo tanto, e com quem fiz descobertas importantes em horários atípicos, como sábado a tarde tomando café. Menina com quem minhas afinidades foram além das caixas de sucrilhos, da manteiga e não margarina e de certa marca de achocolatado em pó, e que passaram também de conversas intermináveis sobre Drummond, Quintana, Clarice, Che Guevara e Fidel. Chegaram a um encontro de almas. É o que eu chamo de amizade.
***DEDICADO A KELLY CRISTINA MONTE

Vanessa Zordan 

MUDANÇA DE NOME


É dela mesmo que eu estou falando, você sabe quem é. Diz-se que se chama Ana Paula, mas parece que mudou de nome. Maria. Bem que poderia ser Maria Paula ou até mesmo Ana Maria. Mas é Maria mesmo a Ana Paula. É que, dia desses, ele me disse que mudaria de nome se não viesse em casa no outro dia me ver. E eis que, no dia seguinte toca o telefone e o que eu escuto? “Oi Nessa, tudo bem? É a Maria!” Dei risada da minha amiga desnaturada que eu entendo profundamente porque é igualzinha a mim. Mas essa coisa de nome de nada adianta. Fosse Ana Maria, ou Maria Paula, ou só Ana, ou só Paula, ou Maria unicamente, ela seria a mesma moça do cabelo dourado, inteligência única e gênio ímpar. A mesma que está sempre ali do meu lado, mesmo que não me visite. A mesma que se joga nas coisas que faz, que sofre por antecedência e que exagera no riscado. Depois faz piadas dos seus destemperos e tira boas lições deles. Mas todos esses destemperos são tão legítimos, tão cheios de classe, tão verdadeiros e intensos, que transparecem a alma autêntica da Ana Paula, que mesmo que se chamasse Maria, eu a amaria (plagiando música já conhecida), porque ela me liga e me chama de tratante. Porque ela me põe para cima e me fala a verdade. Porque ela é divertida ao extremo. Porque ela é consciente da falta que faz às pessoas e não faz pouco caso disso. Porque ela sempre fala a coisa certa na hora certa. Porque ao lado dela um montão de gente se sente feliz. Porque ela é a beleza em pessoa, interiormente e exteriormente. Porque ela é Ana. Mesmo que queira mudar de nome. É minha irmãzinha do coração! 

Vanessa Zordan 


***DEDICADO A ANA MACEDO

CIRANDA

Eram crianças, mas achavam que sabiam o que era namorar. Eram tempos mais amenos. Namoro, naquela época, resumia-se a dar preferência ou proteção durante as brincadeiras, ter o direito de dançar com o par em questão nos bailinhos de aniversário das crianças do bairro, pegar na mão e, em alguns casos de intimidade maior, dar um beijo, que poderia ser na boca. Além, é claro, do prazer de dizer aos outros que namorava, e quem.
Ela queria, ele nem tanto. Ela escrevia cartinhas. Ele as lia, e ficava com o mérito, recebendo elogios orgulhosos do pai porque já estava mostrando a que veio. Além disso, ela não era a única e nem a mais bonita das meninas que o paqueravam, o que justificava o orgulho do pai. Dançariam na festa junina do bairro, ensaiaram o mês inteiro, mas no dia ele teve que fazer uma viagem e ela, frustrada, tratou de arrumar outro par para dançar.
Namoraram (pelo menos na cabeça dela), casaram-se, isso sim! Com direito a enfeites no cabelo, cerimônia, flores, padrinhos e a molecada do bairro em peso prestigiando o acontecimento, que se daria no campinho do bairro. Digo se daria porque nesse dia o noivo não apareceu, e a cerimônia foi acontecer, de fato, dias depois, mais simples e com menos testemunhas. Mas concretizou-se, com troca de alianças com anel de doce e o tão esperado sim. O padre foi o irmão da noiva. Depois disso, não foram mais nada, acho que nem amigos.
Cresceram. Ele namorou e separou-se. Ela assistiu. Mais tarde, ele cogitou ter qualquer coisa com ela. Ela achou que era brincadeira e nada aconteceu. Estudaram, ela mudou de casa. Ele namorou de novo, ela sempre a procura, mas nunca sozinha. Porém, nunca com a pessoa certa. Ele mudou de cidade, mas vinha sempre à casa dos pais. Ela ainda estava no mesmo lugar.
Ele separou de novo, pediu para ela o telefone de uma colega com quem ele já havia se relacionado. Ela não o tinha, mas desmanchou-se em empenhos para conseguí-lo, torcendo para que desse certo, pois eram duas pessoas legais. Ele voltou com a ex, e esta expressava um ciúme ferrenho dela que, esqueci-me de contar, desde os tempos imemoriais, era a melhor amiga da irmã dele. Ela namorou também, separou, foi morar fora. Passou algum tempo. Ele teve vários ganhos, ela também. Ambos tiveram perdas, sobretudo amorosas, sofreram neste quesito, procuraram incansavelmente o amor, enrolaram-se com a distância, que sempre os fazia ficar longe de quem amavam. Deram muitas voltas nesta vida, e em uma delas, tempo presente, caem agora cara-a-cara um com o outro. Sentimentos esquecidos fervilham, como num vulcão em erupção. Doces lembranças vêm à tona, sentem-se bem em compartilhá-las. Descobrem afinidades, ouvem coisas agradáveis, percebem o cheiro da flor e a beleza do céu. Sentidos aguçados. E agora, o que será que o destino reserva para esses dois corações?






Vanessa Zordan

FOI ASSIM...

Luiza, com dois anos e meio: Tia...ô tia...
Vanessa: Oi...
Luiza: “Cê” sabe, o menino...
( Xiiii, lá vem história)
Vanessa: Que que tem o menino?
Luiza: Foi assim, tia. O menino “tava” lá na “fente” da casa dele conversando com o “miguinho” dele.
Vanessa: Hã...
Luiza: Aí, o menino chamou a mãe dele. Ele chamou, chamou, chamou, e ela não veio. Chamou e ela não veio e tal, e tal.
Vanessa: E aí?
Luiza: Ele chamou e ela não veio, aí ele ficou “fudido” , tia. Bravo mesmo!
Vanessa: Hahahahaha...
É, peço perdão à pedagogia e ao bom comportamento, mas tive que rir! 


Vanessa Zordan

A VOLTA

A noite acabou, volto para a casa
Desta vez acompanhada por você.
E por mais que pareça que não
Tudo em mim ficou gravado, tatuado,

De um jeito que não sai mais.

A volta, principalmente.
A paisagem do céu
Um grande desenho de nuvem
Obtuso, cheio de significados
Em contraste com o cinzento céu,
Que foram muito bem observados por você.

E ficaram em mim a bela paisagem,
O céu, a nuvem, a esperança da manhã,
A discussão sobre Jean Paul Sartre
E você...
Ficaram em mim...

Desculpa se não me entrego
Se não me jogo de olhos fechados.
Perdão por essa dificuldade
De ser quem eu sou
Principalmente porque sei
Que com você eu posso
Tirar a roupa, falar bobeiras
Me descabelar, fazer o que eu gosto
Te fazer delirar e esquecer de sofrer!

Desculpa se eu não faço
As coisas como elas devem ser
Ou melhor, como elas não devem ser.
Mas é que estou me escondendo de você
E me escondendo de mim.



Vanessa Zordan