segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Oração para Pedro (sobre o que realmente importa)



Não sei mais pensar minha vida antes de você. Parece até que ela nunca existiu. Foi preparação para o agora. O melhor é agora. O agora e o que virá. No passado ficaram algumas saudades, outros esquecimentos menores sobre o que eu achava que era importante. Coisas ou pessoas que eu pensava que fariam falta. E agora, velando seu sono fora de hora e ansiando seu olhar para encerrar o dia, vejo que nos bastamos. 
Os meus dias de sol são mais bonitos, os chuvosos menos tristes e melancólicos depois que você chegou. O dia é sempre uma descoberta. A noite é sempre um aconchego. A semana é sempre a espera pelo fim do dia. A saída do trabalho é sempre ao seu encontro, feliz feito criança. Os finais de semana são sempre nossos. Para a preguiça ou para a agitação, nossas mãos estão dadas. Meu apoio é para os seus passos, para as suas brincadeiras. Brinco também, rio, canto. Desespero-me às vezes, pelas coisas que parecem não ter solução. A solução é o amor. Nosso amor é sempre sublinhado. Em nome dele percebo que tudo tem jeito. Que há coisas que não acabam, apenas se modificam. Outras que acabam sim (ufa!), mas recomeçam, revivem, revigoram-se. E outras que nascem, pois há sempre algo a nascer. 

No seu olhar vejo a semente para o novo. A força para as mudanças. A graça das oportunidades. No seu sorriso paira a eternidade. Eternizo-me na semente que soube plantar e agradeço a Deus pela oportunidade não premeditada de fazê-lo. 

Que Deus abençoe você. Você será todo o meu melhor. Filhos são como os pais, só que melhorados. Que eu saiba melhorar você mais e mais, se é que isso é possível. Porque sempre foi você. Exatamente você. Outro não caberia. Mesmo antes de conhecer você, eu já o conhecia. Meu amor a cada dia cresce. Como seus pés crescem e já não temos sapatos. Como suas pernas crescem e já não lhe cabem as calças. Como os braços descobertos pela blusa que não serve mais. Por todas as roupas que irão vestir outras crianças, pois você cresceu. Por toda gratidão, por todos os abraços que damos e recebemos das pessoas. Abraçamo-nos, e assim nos renovamos. Assim nos amamos. Tudo é uma grande expansão. Que nosso território sempre se renove, como o céu e suas estrelas. Amplitude.

Vanessa Zordan

terça-feira, 21 de junho de 2016

Novos parágrafos

  • Hoje estou cansada. Cansei de competir comigo mesma e perder. Cansei de querer chegar à frente de mim mesma. Compito sozinha. Computo minhas dores, meus amores, corro atrás de um tempo que já passou, de um tempo que não tenho mais, e de um tempo que virá. Por isso ando exausta. Por querer definir o indefinível. Preciso despregar-me do desnecessário de saber as respostas para o que não consigo sequer definir as perguntas. Preciso de outros horizontes. A água que molha a terra um dia volta para a nuvem, e para isso se condensa, se renova para aparecer fresca e cheirosa. É disso que preciso agora, desse frescor renovado. Renovação. Renovar a ação e deixar que ela cuide do que é velho em minha vida. O velho em nossas vidas é todo aquele ou aquilo que ficou. Que não permitimos partir. Que não permitiram que nos deixasse. Não quero renegar o velho, ao contrário. Quero voltar à casa de tudo que é velho com vaso em mãos de flor que cultivei em meu próprio jardim. Quero continuar amando, mesmo que doa. Mesmo que às vezes precise dar a outra face à surra. Amor não envelhece, o que envelhece são algumas formas de amar. Mesmo que velho o amor o é, e por ser amor, há sempre que se agradecer. Por poder amar, há sempre a dádiva da vida. Pela dádiva da vida há sempre gratidão. Pela gratidão, há sempre o peito aquecido. Pelo peito aquecido, há sempre um sorriso no rosto. Pelo sorriso no rosto há sempre a leveza que procuro. Mesmo exausta, não me canso de amar, dessa bagunça organizada que inventei, que não deixo ir, que não deixam que vá... a vida é tão curta. A vida é rara. A vida passa. Eu tenho ficado. Espero e tenho esperança no amor que tenho e, sobretudo, no amor que posso ter...mas hoje estou cansada. Hoje começo novos parágrafos em meus textos... 


  • Vanessa Zordan


Curtir

Calendário


Inverno, fim de tarde
O carrinho não lhe cabe nas mãos 
Quer segurá-lo, mas facilmente vai ao chão
Há tanta beleza nas suas tentativas frustradas
Nos seus surtos de teimosia insistente
Que mal vejo o tempo que passa
E quando me dou conta chega a primavera
Enche de cores a nossa janela
E as suas investidas para novas descobertas

Já é verão e descubro que há tempos
Suas mãos com o carrinho já tiveram êxito
E por hora se ocupam de outro brinquedo
E mais outro, e depois se movem pelos cantos da casa
A buscar brinquedos em forma de objetos proibidos
Oriento cheia de um amor que nunca imaginei sentir
Proponho novas brincadeiras, outros obstáculos.

É fim de tarde outra vez...
Abro um calendário que parece nunca ter existido
Tão rápido foi desfolhado pelo outono do tempo
Meu menino cresce.

Vanessa Zordan