(texto de 2017)
É nesses dias de recaída da sua
resistência que fico pensando o que fazer, onde eu tenho errado e se não há
mesmo mais nada a fazer. Acertar ou errar quando se cria um filho são situações
que vivem em uma tênue linha. Na corda bamba, como meu coração, que fica bambo
quando você não está bem. Você não é de muito choro, e não fosse sua rinite
praticamente não ficaria doente. A esperança agora nos veio em forma de vacina.
Apostamos as fichas e um dinheiro que nem podíamos gastar para te ver bem. Mas
pouco importa, pois de tudo o que o dinheiro pode comprar, nada me faria feliz
se não fosse com/para você. Você é uma bênção. E fico pensando em que ponto
dessa estrada eu parei. Em que coisas ou situações ainda penso estar em falta e
qual é o motivo de eu ainda transferir as faltas alheias para mim.
Eu sei com convicção que nos
bastamos. Sei do meu amor e o quanto ele é grande. Não sei a medida certa do
amor das outras pessoas, mas sei que você é amado o suficiente, que tem e sempre
terá tudo o que precisa para crescer feliz. A felicidade é tão simples, tão absurdamente
simples, que o que temos, nós dois, não precisa de exposição. Não precisa de
posts, nem de ganhar “likes” nas redes sociais. Não há culpa, há calma e
serenidade. Isso é ser feliz.
O costume às tecnologias tem sido
tão comum e social nos últimos anos, que sucumbimos a ele. Tenho refletido
muito sobre isso, sobre essa necessidade desnecessária que as pessoas andam
tendo de expor suas vidas. Devo ter exagerado várias vezes. Mas sei que o amor
que temos é sempre maior do que toda essa ilusão. E, não bastasse as fotos, há também os
escritos. É que a sua mãe, meu filho, tem uma necessidade estranha de escrever.
Quer rimar, quer colocar no papel algo que toque as pessoas. Quer entender as
coisas que vivemos através dessa escrita. Quer reconstruir, reviver, recriar,
curar as dores e experimentar sabores escrevendo. Você tem sido meu melhor
tema, meu mote preferido, o amor mais puro. Escrever sobre você é acertar
sempre. Longe desses estrelismos desnecessários para o que realmente importa em
nossas vidas, peço que me perdoe se, ao crescer, achar isso tudo muito sem
graça: “Credo, mãe. Que mico!”. Mico, ou qualquer outra gíria “da moda”, vai
saber. Essa inclusive já está ficando ultrapassada.
De qualquer forma, é sempre
incrível quando constato que o nosso melhor flash é a luz do abajur que te
encaminha para o sono, ou a luz do sol sob o qual você corre e descobre o mundo
e as cores. Quando te abraço e criamos nossas acrobacias ou organizamos nosso
show particular de instrumentos improvisados, nos transformamos em verdadeiros astros.
Essa é a melhor (e real) vida que existe no mundo.