domingo, 22 de dezembro de 2013

Mais de trinta



Mais de trinta anos vividos
Sem me conhecer direito
Havia uma blindagem opaca
Fazendo hora em meu peito

E foi assim desse jeito
Que uma luz foi entrando
Desmanchou gradualmente o feito
Aumentou o quebranto

Mais de trinta anos perdidos
Será fim ou recomeço
Desespero-me ou faço festa
Pelas horas que gastei
Sem estar de fato em mim?

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Depuração



Ando tão submersa em mim mesma
Abafo o cheiro das memórias
Para que não sejam detectadas à minha presença
Ou a olhos nus, por qualquer um
(São meus segredos)

Em ausências me encontro comigo
E com fantasmas, alegrias e tristezas

Ando tão submersa em minha memória
Estado suspenso no ar, inexatidão das conversas alheias
Que pouco ou nada me interessam

Ando assim submersa, alma inversa
Teor cáustico gerando flores
Depurando amores e anseios
Meus desejos, minhas dores
Em busca da melhor definição do fim

Fim do começo ou começo de mim?


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Declaração





Todos os meus poemas de amor
Escrevi para ti
Só não te conhecia ainda. 

Vanessa Zordan

domingo, 1 de dezembro de 2013

Aniversário




Fazer anos pode ser catártico. Eu sempre associei o meu aniversário ao começo do fim. Faço anos no final de novembro, logo em seguida já começa dezembro e com ele a sensação de que o ano está acabando. Sensação não, realidade. Aí bate um desespero, parece que mais um ano se passou e nada mudou. Alguns sonhos engavetados, alguns dos projetos da listinha do ano passado apenas iniciados (quando muito). Mais um aniversário, mais uma vida que escorreu pelo ralo. E parece que tudo está igual, somente um ano mais velho.
A catarse da vida se instala para mim, com mais força, nessas datas. São inúmeras manifestações de gente que gosta de mim (e que eu gosto igualmente) que aquecem o coração. A gente pensa mesmo que a vida é de fato boa, que é feliz porque tanta gente gosta sinceramente de nós, e isso, claro, não pode ser descartado. Mas ainda assim, a cada ano acumula-se um vazio, e eu não sei explicar, tão pouco apontar miudamente. Só sei que ele existe, e esse apelo natalino do meu aniversário, no último dia do novembro indomado, dá a ele um peso ainda maior. É uma gangorra que puxa para baixo, e ao mesmo tempo para cima, e para baixo, e para cima. Para cada alto, há um baixo. Sem juízo de valor ou grau de importância, mas há sempre os dois, se alternando. E não se refere a meu humor nem estabilidade emocional, mas sim aos acontecimentos cotidianos. Aprendo tanto, e à medida que isso acontece, a sensação de saber nada aumenta. É gradativo, contraditório e quase filosófico. E as palavras gritam aqui dentro, querendo sair, ter asas para voar, mas o despreparo da representante delas ainda as tolhe de partirem rumo ao desconhecido. Então elas buscam espaço nas letras dos outros, e encontram nessas letras quem escreva por mim. Momentos mágicos. Acalmam-me, por hora, refrescam o coração, mas logo a busca incessante recomeça. E essa busca será eterna enquanto eu viver! Porém a maturidade me fez perceber que só há vida mesmo, de verdade, enquanto houver buscas. Elas são presentes, e não penas. Alimentos, e não faltas. 
Que eu não me acovarde diante das buscas da vida. Que eu tenha sempre algo novo para buscar, e que o desconhecido jamais me coloque medo, e sim fascínio. Que esse fascínio me impulsione a querer mais e sempre mais, tanto quanto minha alma necessitar, e que me sobre um bom tempo para dividir com quem precisar. Que as datas todas passem a marcar começos, e não fins! Para todo o fim há um começo, então que fique a parte boa dos dois. Que os fins me carreguem sempre para novos começos. E que a vida seja sempre doce, mesmo quando o amargor saltar aos olhos...pois no fundo o que importa mesmo é viver. Somos pássaros a semear novas flores...dentro de nós, e dentro dos outros. E o tamanho do nosso jardim só depende de nós mesmos.