domingo, 9 de novembro de 2014

Singular


Meu bem
Logo você vem
Logo você chega
Você já está
Vem para ficar,
E volta para ver
O que eu não sei enxergar
Vem para me ensinar a dizer
O que eu não sei dizer
E fazer, e sentir, e me dar
Vem para ser
O que já é, já foi e sempre será
Vem para me eternizar 
Na conjugação de amar
É você meu verbo
É singular.

Vanessa Zordan


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Estrada

Não, não é por ti
É por mim
E pelas escolhas que faço
Mas que enfeitas a estrada
Isso é fato.


sábado, 7 de junho de 2014

Resíduo



À Carla Tocchet (formadora do programa Ler e Escrever)

Não bastasse a audácia de se despedir, ela ainda usa o “meu” poeta preferido, junto com um dos seus (dele) poemas mais lindos e “meu” preferido como sendo ambos “seus” preferidos. Ela deixou com isso um buraco aqui dentro. Na verdade, ela deixou um buraco aqui dentro com a audácia de se despedir. Audácia é pouco, é eufemismo.  Mesmo que eu não estivesse mais...mesmo que eu já tivesse saído de cena, deixado o barco, um dos meus pés ainda estava na proa. Minha eterna proa, meu eterno barco do qual ela era uma das comandantes. Um dos meus grandes modelos.  Estive nesse barco por 6 anos, e o mar que naveguei com ela foi imensurável de se calcular...milhas e milhas de tempestades e pores de sol. Ajudou-me a ficar firme quando a única saída que me parecia mais plausível era desistir. Então eu recebia a dose mensal dos ensinamentos dela, desse feitiço que ela tem e que traz à tona a percepção de como proceder, de que é possível vencer os obstáculos na educação e de que não é tão penoso assim. Ou de que sim, é penoso, porém ela me abria as portas de um mundo novo, cheio de possibilidades para quem acredita, tem vontade e amor pelo que faz.
Por vezes ganhei seu jeito de fazer as coisas, suas expressões, “bacanisses”, neologismos que impregnaram – “De onde essa Carla tira essas coisas?” – e fizeram parte mim...na verdade, fazem parte de mim. Nunca deixarão de fazer parte de mim, da profissional que estou me tornando a cada dia, e de todos que tiveram o privilégio de viajar nesse barco.
Mas ela teve a audácia de se despedir... sabemos que não é um “adeus”, e sim um “até logo”. Sabemos também que o que ficou dela em cada um de nós será sempre ampliado, pois um formador de verdade é aquele que deixa seus pupilos em condição para caminhar sozinhos e de forma crítica. Ficaremos aqui, sem enxergá-la com os olhos, mas tendo a certeza de que seu brilho continua em nós, através dos conhecimentos que construímos juntas, e que fazemos questão de espalhar feito vento por aí.
As pessoas se eternizam pela intensidade com que se doam. O resíduo dela em nós já é eterno.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Chove



Eu vim mesmo para te dizer
Que a previsão do tempo diz que não chove
Mas ainda que eu ignore
Há chuva em mim
Sai o sol e fim
Sai o arco íris, enfim
O céu se abre, por fim
Mas a chuva não cessa
Chove, e eu tenho pressa
É certo que a previsão errou
Porém não me distraio  
Simplesmente vou

Estou sempre pronta!
E, se não estiver, sou.    

Vanessa Zordan
                    

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Do sentimentalismo




Dó de tudo e de todos
E foi tanta pena
Que galinhas voaram.

Vanessa Zordan

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Eu tinha um poema escrito



Eu tinha um poema escrito
Em um caderninho
Mas agora não sei onde está

Não, não era o caderno vermelho
Era um caderninho menor
Em espiral
Onde marquei algumas aspirações
Em forma de versos
Para ficar mais bonito
Mas agora não sei onde está

E esse vazio estranho há de ser preenchido
A poesia sempre encontra espaços para preencher
Sem que ninguém autorize, ela vive em nós

Meu caderninho não sei onde está
Mas há de aparecer
Senão invento outra vez, escrevo onde for
Não importa

Pois é perdendo e achando
Que a vida se faz
Toda flor que nasce
Um dia volta a ser semente

Vanessa Zordan





sábado, 22 de fevereiro de 2014

Em tempos de Facebook




Publiquei mas não marquei
De fato, foi melhor assim
Enganei-me que marquei para você
Mas na verdade só você marcou em mim.

E sendo assim
Exclui-se e... fim.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sopro



Seu nome em minha boca
Exercício diário
Lembrar a sua mágica aparição
Bem e mal necessários.
Foi assim por algum tempo
Mas e hoje?

Hoje me cansei
Hoje seu nome se cansou da minha boca
Hoje minha boca despregou-se do seu nome
Hoje há cãibra nas mãos
Pela lição de casa mal dada
“Repita cem vezes no caderno de pauta,
mas do jeito certo.”
E repetir cem vezes, e continuar errando
Qual é o certo, afinal?

Cansei rápido dessa vez
Será definitivo?
Apagou-se de todo este fogo
Aos poucos sucumbido?
Ou um sopro seu o reacenderia?

Nesse caso, a boca que se cansa
É só a minha.

Vanessa Zordan

domingo, 26 de janeiro de 2014

Pergunta que não quer calar




Fone de ouvido:

Compaixão ou egoísmo?

Vanessa Zordan 

sábado, 11 de janeiro de 2014

Sinal fechado

Precisava correr
Mas o sinal foi mais rápido
Fechou e ela ficou
Por um momento contestou sua pressa
E a dividiu comigo
Era a preço que pagava por aproveitar demais, disse
Um passeio, um cardápio, um grande amor, não sei
Só sei que ela atravessou antes que o sinal reabrisse
Suas cores na Av. Paulista as fizeram uma só
Quem sabe chamava-se Paula?
Estava aprendendo a avançar sinais
Era só mais um

E por hoje bastava.

Vanessa  Zordan