domingo, 13 de fevereiro de 2011

Reflexões de viagem


O ônibus sai e o motorista se esquece
de apagar a luz.
Começo a olhar para a cidade de Presidente Prudente e imaginar:
E se eu tivesse nascido aqui?
É, se eu tivesse nascido aqui,
talvez teria o mesmo pai, a mesma mãe, o mesmo irmão e os mesmos amigos.
Poderia ser que eles fossem outras pessoas, mas os mesmos!
Haveria uma escola onde eu teria convivido com uma Léia, uma Rosi e uma Andresa.
Meu primeiro amor seria um João Henrique.
Também teria como mestres, uma D. Judite Vizoni, uma D. Eliana,
um Robert, um Nevil, uma D. Norma e um Geraldo Malta.
Mais tarde teria novos amigos na minha outra faculdade, uma outra
Fernanda, um outro Aldo, outro Dú e outra Sid.
Aprenderia a arte de ensinar com uma D. Adélia, uma D. Rosário, Um João Luis,
Um Robert novamente, Um Ortiz e um José Fullaneti de Nadai, doutor pela Usp.
Também haveria uma Ana, que poderia perfeitamente hoje estudar
em Londrina, e outra Cris, que trabalharia em São Paulo sem
problemas.
Talvez a Carime e a Luiza (não menos amada!) fossem outras, e a história também.
Existiria outro Bruno, que também moraria ali perto, em outra cidade pequena da redondeza, como “Marti”, Vênus ou Júpiter, não sei ao certo. E com ele haveria outras pessoas dali, iguais as que conheço aqui...
Na seqüência, mais gente em quem eu me ligaria: um Tonhão,
um Torsiano, um Marcelo, um Belletti, um Rafael Freitas e um Fábio,
e junto com eles as mesmas histórias...
A "Zordan bonés" também seria a mesma, talvez com outro nome, e teríamos uma Fátima, uma Cida e um Welington.
Também haveria alguma praça onde faríamos um lual por domingo, com um Élson e um Maumau tocando violão,
um Marcão, um Tarzan e uma “Jane”, junto com mais um monte de gente cantando os nossos sonhos e esperanças para saudar mais uma semana (terrível!) de trabalho.
Haveria outra escola onde eu começaria a lecionar, e nela os mesmos medos e conflitos da profissão.
A Kelly poderia ser a Kelly mesmo, uma vez que ela tivesse optado por ficar em Prudente com o marido ao invés de vir para Penápolis.
E com isto eu trabalharia mais perto de casa, se caso tivesse nascido em Presidente Prudente.
Porém, em um momento ou outro, eu escutaria, da boca de um Júlio, uma Élen, ou de tantos outros que estudam ou estudaram em Prudente, o nome da minha cidade natal: “De onde você é?”
E alguém responderia: “de Penápolis.”
Eu diria: “Ah, você é da terra da Sabrina Sato?”
Talvez até soubesse que lá nasceram a Pepita Rodriguez, e os parentes da Júlia Gam.
E perguntaria se eles nunca haviam cruzado com o Dado Dolabela na rua.
Esclarecidas as futilidades, eles me diriam que a cidade é simpática,
que tem a melhor água do Brasil e um dos dois únicos e mais belos Santuários de São Francisco de Assis da América Latina, além de três museus perfeitos.
Diriam que tem uma avenida com alguns barzinhos onde
todos se encontram e de maneira mais calorosa que nas
cidades maiores para conversar e escutar música.
Duas boates, clubes, lugares para fazer caminhada,
uma bela praça com uma fonte luminosa, antigo
“point” da “galera” antes da Avenida, como os pais deles contavam.
Saberia da existência de Penápolis como sei da existência de tantas outras cidades...
Porém, senti um nó na garganta ao perceber que viveria as mesmas histórias, mas com outras pessoas...
E a minha cidade querida passaria a ser outra, sem eu ter sequer a opção de mudança.
Mas não quero mudar, não vou mudar.
Sou tudo o que vivi e a cidade onde nasci.
Não vou deixar para trás a minha vida.
Voltar, regressar...belos verbos!
O motorista se lembra de apagar a luz.
Melhor dormir.

Vanessa Zordan 

Ps: Tão estranho distanciar-se de um escrito nosso por meses, anos até, e retornar a ele e descobrir tantas coisas! Este poema é meio piegas, mas é legítimo...sentimento que eu tinha na época. E hoje eu teria que acrescentar tantos outros nomes a essa lista, de gente querida que Deus me deu a alegria de conhecer, mas isso é uma outra história...vale o exercício, pois escrever faz com que conheçamos a nós mesmos!

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