terça-feira, 13 de janeiro de 2009

CIRANDA

Eram crianças, mas achavam que sabiam o que era namorar. Eram tempos mais amenos. Namoro, naquela época, resumia-se a dar preferência ou proteção durante as brincadeiras, ter o direito de dançar com o par em questão nos bailinhos de aniversário das crianças do bairro, pegar na mão e, em alguns casos de intimidade maior, dar um beijo, que poderia ser na boca. Além, é claro, do prazer de dizer aos outros que namorava, e quem.
Ela queria, ele nem tanto. Ela escrevia cartinhas. Ele as lia, e ficava com o mérito, recebendo elogios orgulhosos do pai porque já estava mostrando a que veio. Além disso, ela não era a única e nem a mais bonita das meninas que o paqueravam, o que justificava o orgulho do pai. Dançariam na festa junina do bairro, ensaiaram o mês inteiro, mas no dia ele teve que fazer uma viagem e ela, frustrada, tratou de arrumar outro par para dançar.
Namoraram (pelo menos na cabeça dela), casaram-se, isso sim! Com direito a enfeites no cabelo, cerimônia, flores, padrinhos e a molecada do bairro em peso prestigiando o acontecimento, que se daria no campinho do bairro. Digo se daria porque nesse dia o noivo não apareceu, e a cerimônia foi acontecer, de fato, dias depois, mais simples e com menos testemunhas. Mas concretizou-se, com troca de alianças com anel de doce e o tão esperado sim. O padre foi o irmão da noiva. Depois disso, não foram mais nada, acho que nem amigos.
Cresceram. Ele namorou e separou-se. Ela assistiu. Mais tarde, ele cogitou ter qualquer coisa com ela. Ela achou que era brincadeira e nada aconteceu. Estudaram, ela mudou de casa. Ele namorou de novo, ela sempre a procura, mas nunca sozinha. Porém, nunca com a pessoa certa. Ele mudou de cidade, mas vinha sempre à casa dos pais. Ela ainda estava no mesmo lugar.
Ele separou de novo, pediu para ela o telefone de uma colega com quem ele já havia se relacionado. Ela não o tinha, mas desmanchou-se em empenhos para conseguí-lo, torcendo para que desse certo, pois eram duas pessoas legais. Ele voltou com a ex, e esta expressava um ciúme ferrenho dela que, esqueci-me de contar, desde os tempos imemoriais, era a melhor amiga da irmã dele. Ela namorou também, separou, foi morar fora. Passou algum tempo. Ele teve vários ganhos, ela também. Ambos tiveram perdas, sobretudo amorosas, sofreram neste quesito, procuraram incansavelmente o amor, enrolaram-se com a distância, que sempre os fazia ficar longe de quem amavam. Deram muitas voltas nesta vida, e em uma delas, tempo presente, caem agora cara-a-cara um com o outro. Sentimentos esquecidos fervilham, como num vulcão em erupção. Doces lembranças vêm à tona, sentem-se bem em compartilhá-las. Descobrem afinidades, ouvem coisas agradáveis, percebem o cheiro da flor e a beleza do céu. Sentidos aguçados. E agora, o que será que o destino reserva para esses dois corações?






Vanessa Zordan

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