segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

DOMINGO


Era domingo. E como é peculiar deste dia da semana, a noite estava morna, pouco significativa. Só a lua que teimou em brilhar, em contraste com o coração dela. Tentou animá-la, mas não pôde. Mesmo assim, destoou da sem-gracisse do dia.
É claro que, se pudesse escolher, a decisão não seria tomada em um domingo. Exatamente por ser um dia sem graça, início de semana para calendários insensíveis, não seria o ideal para terminar um namoro. Términos assim, importantes, caem melhor em uma segunda feira, para que as mágoas sejam choradas durante a semana, ou mesmo em uma sexta. Sexta começa o final de semana, e para os mais animados, a chance de chorar só no sábado, para no outro dia se encher de tédio é maior. Mas num domingo! Dia de começos, não de finais. Dia em que não se pensa muito no que se faz. Mas ela pensou e repensou, decidiu, sentenciou, pesou prós e contras. E deixou-se estar na preguiça, vendo o dia passar.
O peixinho no aquário borbulhava o tédio e a tensão exalada na sala. Ela manteve-se calada, como se aquele momento fosse demorar ainda algumas horas para chegar. Já sabia o que dizer, mas sabia também que na hora sairia tudo diferente. Esperou, escreveu, procurou textos, músicas, algo que pudesse acalmar seu coração. Engraçado pensar no por quê de as coisas acontecerem. Quem sabe se tivessem reencontrado-se alguns anos antes, teria sido diferente. Ou será que aquilo não daria certo mesmo, e a insistência era inútil? Mais inútil ainda era a espera. Por que não ligava logo para ele e acabava com aquele martírio? Por telefone mesmo? Pensando na pieguisse das músicas sertanejas, será que seria covardia mesmo terminar um namoro por telefone em uma noite de domingo? Mas como explicar miudamente o que acontecia com seu coração? Realmente, por telefone não dava, necessitava de olhos nos olhos. Era o mínimo que poderia fazer por ele.
E como em um flash, vieram à tona sentimentos passados, relacionados 1º namoro dos dois. Tinham em comum a adolescência, eram diferentes, mais tolerantes. Agora, do alto de suas condições, o coração se fechara para muitas coisas, outros casos de sentimentos feridos em muitas ocasiões, um longe do outro. Agora julgou que conseguiria resgatar o amor daquele tempo. Mas não conseguiu. O sentimento se tornou nublado, foto em sépia que congelou o passado e não conseguiu colorir o presente. Um sentimento que não se sabe de onde veio, e muito menos (pior!) para onde foi. Não havia mais o sentimento caloroso da paixão, e aquilo lhe doía o coração, lhe gelava a alma. Não sabia se era doloroso ou dolorido, porque nunca conseguiu saber qual dos dois dói mais. Mas doía. Triste sentir-se assim, inútil. Vilã da estória, insensível.
Mas naquela noite ela foi a vilã. E ao ver lágrimas caírem dos olhos dele, chorou de soluçar. Sentiu-se mal, zonza, perdida. Será que era a melhor saída. Retóricas por parte dele tentavam consertar as indisponibilidades, mas não conseguiram convencê-la. Doía, mas não tinha como voltar atrás. Conversas que procuraram garantir a amizade instalaram-se no diálogo, com o moço já rendido pela triste realidade. Um último abraço selou o combinado, "deixa como está mesmo, se você não quer mais, não vai dar certo". E ela o viu partir, e pela última vez o barulho do motor do carro virando a esquina. Confusão de sentimentos. Olhou para o céu. E a lua, pouco solidária, continuou a brilhar. Mas naquele dia, domingo, ela realmente não viu graça.


Vanessa Zordan 

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